segunda-feira, 31 de março de 2014

(explosão)

, e na verdade eu até cheguei a me perguntar o que havia de extraordinário nela, eu juro que tentei mas não descobri, então inventei: inventei sua personalidade auto-confiante e que ela era realmente intelectual quando fazia comentários pedantes (inclusive cheguei a pensar que ela era demais pra mim), inventei a inspiração que me vinha quando estava com ela e que me possibilitava falar coisas belíssimas; mas isso tudo porque o sentimento era tão ralo, pobre e vazio que tive de inventá-lo também e, vivendo uma paixão inventada de uma ponta a outra, consegui viver feliz por meses e meses até que a ficha caiu bem em cima da minha cabeça, interrompendo todo o meu processo criativo que fora tão estimulado por todo esse tempo, afinal de contas "é tudo invenção", mas não!, não é porque é invenção que é mentira, pelo contrário: escrevi uma história só nossa, e por ser minha criação eu jamais viveria algo tão verdadeiro como tudo aquilo e me dói que a arte construída em cima de algo vazio não seja compreendida, afinal do que mais seria feito o amor?, o amor é puramente inventado, puramente artístico e sim, sim, todos os amantes são artistas mas nem todos os artistas são amantes porque o amante jamais é compreendido, ninguém tem interesse na sua arte uma vez que todos já sentiram na pele o mesmo ardor e somos amorosamente egoístas - não gostamos de lembrar que nossas sensações são todas iguais -, mas o artista tem seu trabalho reconhecido mais facilmente porque seu nome já o livra do clichê, o público já espera dele a -ARTE-, o inusitado (como se o artista vivesse coisas tão diferentes dos mortais (mortais sim, só a arte salva, só a arte imortaliza) enquanto amantes frustram-se por aí, com seus sentimentos reduzidos a "draminha", "tempestade em copo d'água" ou chame do que quiser, mas aonde quero chegar antes de explodir em um ponto final é um apelo por respeito aos CORAÇÕES HIPERBÓLICOS porque temos direito ao exagero, à intensificação de sentimentos que jamais surgiriam como palavras se não fosse desesperadamente - racionalizar palavras é inútil quando o pulsar dentro de si é mais alto que o pensamento e já cansei de dar tantos porquês, amor nenhum precisa de porquê, ele o é porque é.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Sobre a experiência de ser um de onze palhaços na rua

Captação de emoções
Turbilhão de sentimentos e curiosidades

Difícil descrever as sensações
O brilho nos olhos de quem te corresponde
As dores no corpo que só foram aparecer quando o figurino foi embora
O choro da criança que foi silenciando enquanto ela te olhava correr ao lado da janela do carro em movimento

Tô imunda por você
Tô imunda do fundo do meu coração

Tudo é atraente
Tudo é atrativo
Eu quero subir nesse poste e naquele também
O que vocês estão fazendo presos aí, tão dentro de si? Vem brincar aqui fora

Você quebrou isso, você viu que quebrou, né?
Não vi não fiz não sei se respondo
Porque eu não sei se eu sou eu ou se eu sou um personagem ou se o personagem sou eu
Ou se...
Você quebrou
Agora eu vi sim, mas não, não foi por querer, viu é só encaixar, eu quero descer daqui, não quebrei nada não senhor, eu quero brincar com os outros

É muito estranho andar na rua sem nariz porque tudo ainda me deixa muito curiosa e eu observo as pessoas de uma forma tão instigada que poderia render coisas lindas, mas elas não reagem e eu caio no chão porque ninguém tava olhando pra mim
Olha pra mim, ou melhor, olha comigo
"Interessado, não interessante"
O interesse necessário

Eu queria que esse tipo de interação não fosse visto como coisa de maluco; mas talvez eu até prefira ser tomada como louca mesmo, porque isso de "ser normal" é a maior hipocrisia já inventada pelo ser humano
Que palhaçada

Personagem, definitivamente
Ou só pelo resto do dia




domingo, 15 de dezembro de 2013

Meu inventário de clichês

Em meio às várias tentativas de lhe fazer um poema bonito que não fosse clichê e que lhe pegasse de surpresa, eu lembro de que já lhe havia prometido o mesmo. Não falo nem do momento em que você realmente me cobrou um poema e nem da vez em que cantou minha música preferida, mas da promessa que meu corpo fez ao perceber que você combinava perfeitamente com meus versos atrapalhados e muito cheios de enfeites.
Se não fossem os suspiros que a sua música arrancou de mim nem a forma doce com que você me perguntou onde eu estava esse tempo todo, talvez eu não ficasse tão encantada com as luzes de natal da sua rua, que iluminavam a mesma noite em que tudo era quente mas, mesmo assim, os azulejos e o seu corpo junto ao meu pareceram refrescantes. Ainda não consegui fugir do clichê.
É que tem algo na sua voz que me puxa pelos pulsos e leva para uma imensidão de possibilidades em que tudo sobre você é envolvente e poético e me faz querer levar comigo cada centímetro do seu corpo - o que é muito estranho e novo para mim, confesso até que já tentei fugir e, aliás, não parei de tentar. 
Não me leve a mal, é que eu me assusto fácil, mesmo que sempre corra atrás do que é novo. Contudo, como se não houvesse chão atrás de mim e isso me obrigasse a pôr os dois pés à frente, eu me entrego assim mesmo e é assim 
que você me tem - ansiosa e cheia de medos, ainda imersa em inseguranças mas com a certeza de que, se eu me soltar, você vai me segurar e vai ficar tudo bem. Você tem a parte mais apaixonada de mim, que por muito tempo esteve escondida mas finalmente encontrou os braços em que pode ficar livre de receios e deixar a poesia pura e solta, por mais piegas que isso possa parecer.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Do bloqueio criativo

Escrever
Qualquer coisa que pareça ser
Que me faça querer
Que me tire o medo de perder

Parou os versos por ali porque a rima era pobre, porque as mãos latejavam do peso que a dor exercia sobre suas palavras. Cansou de exigir tanto de si, de fazer tanta força para destravar a criatividade há muito bloqueada.
Quando deu de ombros e simplesmente se jogou sobre o papel, a prosa saiu leve e... vazia? Vazia não, mas cheia da falta de sentido. Se não podia sustentar os versos, que ao menos algumas linhas não-intercaladas distribuíssem melhor a angústia que uma superfície tão branca lhe dava. Talvez fosse por isso que mal conseguia dividir os parágrafos do texto. Era uma fome que a fazia querer ver a folha toda manchada e sair daquela sala fria com a lateral da mão suja de tinta, com o desenho da sua vontade temporariamente tatuado.

Crer
Na vontade de ser
No medo de crescer

"De novo, não". Praticamente repetira a primeira rima e agora havia um espaço enorme envolvendo a nova estrofe.
Ser.
Mesmo que não estivesse satisfeita com a produção, descobrira agora que, mais do que escrever, ela almejava algo com que se identificasse e em que se sentisse segura. Mas, até ali, querer bastava; e soltou as mãos sobre a imensidão branca e foi preenchê-la para poder ser, para querer, para crer no seu ser e, sem medo, crescer.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Solução Raciocinada

(escrito no verso de uma prova de Física)

Foi uma decisão puramente precipitada, porém era o que se fazia necessário e não havia outra saída se não pensar com a cabeça. Não desmerecendo a emoção do amor que sentíamos, é claro. Mas, às vezes, a gente tem que deixar o coração de lado e colocar o cérebro no lugar.
Hoje, eu olho pra trás e até me assusto com a tamanha racionalidade com que pensamos ao terminar; por que nós? Logo nós, românticos incorrigíveis e cheios de planos, que brigávamos pelo nome do filho que não nasceria em menos de 20 anos. Logo nós, que não nos desgrudávamos, que, por vezes, abrimos mão da companhia dos amigos pra tomar leite com chocolate aos domingos! "Mas vocês eram perfeitos", ouvimos até hoje. Sim, éramos e somos perfeitos, mas juntos: separados, somos apenas humanos. Apenas humanos, meros mortais que erram o tempo todo e jamais farão a coisa certa.
E o problema era o excesso de acertos. Se éramos tão perfeitos juntos, é porque nunca nos demos a oportunidade de errar. Tínhamos tudo pra dar certo, mas quando dá certo demais, sempre dá errado no final. Nos cansamos da rotina infinita do amor inesgotável, das brigas raras e do comodismo.
Terminar foi a solução raciocinada, o bom motivo que encontramos para nos magoarmos e largarmos um pouco nosso amor perfeitinho de semi-deuses da paixão. E se hoje eu sinto dor, é porque nada foi em vão e a perfeição que buscávamos estava justamente aonde erramos.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Lara

Os olhos escuros estavam cobertos pela franja que deixara por aparar, mas eram tão fundos e brilhantes que via-se de longe que seus pensamentos estavam noutro lugar, longe dali, longe de si, tão longe que mal consegui alcançá-la.
Sentada, com as mãos apoiando seu queixo ela desenhava, rabiscava desejos e rascunhava a vida. Os braços dançavam pela mesa ao som das miçangas da pulseira que balançava, a mão sapateava no caderno e sua pele morena desafiava, fazia convite para mergulhar em seus mistérios, dançar com sua beleza de menina-mulher e descobri-la em meio aos sorrisos que negavam a existência de qualquer motivo de tristeza no mundo.
E sempre foi assim, sempre será: Lara vai encantar  a todos e atrair os homens de bem com sua energia, seu sorriso radiante e seu brilho unicamente belo. Até hoje não se tem notícias de quem se foi a afogar nos olhos castanhos da morena...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Paradoxal

Essa noite tive um sonho repleto de olhares, toques e risadas gostosas. 
Sorríamos, mas dava pra ouvir o som dos corações que pulsavam tristes.
Eram sorrisos de amor, de alegria, de saudade, de ansiedade, de vontade. Sorrisos plenos de toques quentes e abraços apertados. Conversávamos sobre algo, mas não pude ouvir porque os batimentos cardíacos e pensamentos fortes eram mais altos. "Ah, se eu pudesse voltar atrás..."
Ressonhei o sonho umas quinze vezes, tentando decifrá-lo. Os abraços e toques eram quentes, os sorrisos pareciam sinceros... Mas os olhares eram frios, os corações choravam e as almas se despedaçavam. 
Cheguei a ficar preocupada, procurei uma resposta pra tamanha dor, mas entendi que era só paixão. No final das contas, concluí que nós dois somos só um abraço, um sorriso, que é bom na hora e acaba quando a gente não quer. E ainda somos um pouco menos: somos um abraço caloroso de coração congelado, um sorriso alegre acompanhado de um olhar triste... Somos apenas um paradoxo. Um paradoxo escuro e confuso. Menos ainda: éramos.