Escrever
Qualquer coisa que pareça ser
Que me faça querer
Que me tire o medo de perder
Parou os versos por ali porque a rima era pobre, porque as mãos latejavam do peso que a dor exercia sobre suas palavras. Cansou de exigir tanto de si, de fazer tanta força para destravar a criatividade há muito bloqueada.
Quando deu de ombros e simplesmente se jogou sobre o papel, a prosa saiu leve e... vazia? Vazia não, mas cheia da falta de sentido. Se não podia sustentar os versos, que ao menos algumas linhas não-intercaladas distribuíssem melhor a angústia que uma superfície tão branca lhe dava. Talvez fosse por isso que mal conseguia dividir os parágrafos do texto. Era uma fome que a fazia querer ver a folha toda manchada e sair daquela sala fria com a lateral da mão suja de tinta, com o desenho da sua vontade temporariamente tatuado.
Crer
Na vontade de ser
No medo de crescer
"De novo, não". Praticamente repetira a primeira rima e agora havia um espaço enorme envolvendo a nova estrofe.
Ser.
Mesmo que não estivesse satisfeita com a produção, descobrira agora que, mais do que escrever, ela almejava algo com que se identificasse e em que se sentisse segura. Mas, até ali, querer bastava; e soltou as mãos sobre a imensidão branca e foi preenchê-la para poder ser, para querer, para crer no seu ser e, sem medo, crescer.
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